Como foi escrever A Palavra-Humana
Escrever A Palavra-Humana nunca foi simples, nem linear . Talvez porque a palavra, antes de ser escrita, foi vivida. A primeira fagulha veio nos corredores da faculdade, quando Sartre falava de existência e eu percebia que a linguagem não é ferramenta: é destino. Como no embate final entre João e o Tempo, lá no Capítulo 30 da edição original, a palavra funda o mundo e ao mesmo tempo o perde — ela abre a porta e fecha a saída. Ela é o gesto e a ausência do gesto, tudo ao mesmo tempo. Vieram quatro versões. Quatro tentativas de encostar o dedo nesse intervalo entre o sujeito e o real, esse espaço simbólico que a psicanálise insiste que é onde vivemos de verdade. A clínica me emprestou suas vozes. O inconsciente enquanto linguagem me ofereceu estrutura. Mas foram as pessoas que vi desmoronar e se recompor diante de mim que me ensinaram João: suas crises, seus fantasmas, seu desalento com a própria existência. Eu também me vi ali, claro. É impossível escutar tanto sem que algo reverbere p...