007 Skyfal: por que ele é bom, mas é ruim?
Vejo muita gente pagando pau para a nova aventura de James Bond: Skyfall. O marketing da produção fez seu trabalho anunciando o que seria “a maior e mais épica aventura do agente britânico mais famoso do mundo”, mas quando me sentei na cadeira do cinema munido de pipoca e expectativa assistir a mais um filme da 007. Um bom filme, há de se reconhecer, com visual e fotografia impecáveis... Mas, faltou algo.
Vilões sem motivação convincente, um personagem principal que apesar dos esforços do roteiro é raso e uma trama que beira a ficção científica não são defeitos, mas parecem marcas da franquia 007, o que não nos dá direito de reclamar de tais chavões que vêm se arrastando desde meados do século passado quando foi criada. A ação desenfreada e inverossímil também está longe de poder ser alvo de crítica, afinal é uma característica do gênero.
Então o que me incomodou em Skyfall?
Após uma longa reflexão descobri que o que me incomodou em 007: skyfall ou só “skyfall” como andam anunciando, foi um outro filme do 007, sim, com o mesmo ator Daniel Craig: Cassino Royale.
Qual o problema com o primeiro filme em que o galã Craig encarna pela primeira vez o agente secreto com sobrenome de super cola? Por que este filme teria estragado Skyfall.
Cassino Royale estragou Skyfall por ser bom de mais. Simples assim.
007 Cassino Roayle se propôs enquanto um reboot da série. E quando se fala em reboots, mudanças ou desvios de padrão os bolsos dos produtores se sentem ameaçados. Sim, façam “mil remakes”, dizem eles, “mas nunca mudem a estrutura de uma franquia”, pois em time que dá dinheiro não se mexe.
Mas na minha opinião este é um dos trunfos de Cassino Royale, não mexer na estrutura da franquia. Eles conseguiram manter os principais chavões e ao mesmo tempo descontruí-los de forma genial desde a clássica cena em preto e branco cujo espectador é colocado dentro de um cano de revólver apontado para James Bond até nuancias complexas da personalidade obsessiva do agente.
Assim como Alan Moore fez com o personagem Monstro do Pântano no Universo DC, em Cassino Royale vemos um James Bond reformulado, mais complexo. Ainda um “super-herói”? Sim, mas um personagem cujas ações no mundo têm consequência, e revelam um lado frio e doentio do personagem que não se importa se inocentes são torturados e mortos por consequência de suas ações, ou coloca o objetivo da missão acima da ética da própria instituição a qual pertence.
O Cassino Royale critica em suas raízes os jargões da série 007, como por exemplo as Bond Girls, que acabam ambas mortas, uma por indiferença de Bond e outra por consequência de seu amor por ele. E o personagem interage com essas mortes e isso aos poucos vai justificando as ações e características de personalidade do agente ao longo do filme.
Em Skyfall temos um personagem cuja caraterística atenuante do filme é um trauma físico, um tiro no ombro, que é praticamente ignorado ao longo do resto da projeção. Aliás, o James Bond de Skyfall passa o filme inteiro indiferente a tudo que acontece a sua volta, usando sarcasmo em suas poucas falas não convencendo nem mesmo em seu vínculo com sua chefe/ figura materna “M”. Os personagens a volta de Bond tentam nos convencer em diálogos que ele está abalado, outrora que está velho, mas o personagem em si não consegue passar nenhuma dessas características parecendo-se mais com um Robocop do que com um agente secreto que está vendo sua agência ser destruída e retorna para seu antigo lar.
Aliás, o Robocop em seu filme original tem mais emoções que Daniel Craig neste filme.
Mas, é o que eu digo: se Cassino Royale não existisse eu não faria nenhuma dessas críticas, pois se você observar o personagem de Pirce Brosnan vai perceber os mesmos problemas, senão mais.
O grande problema então é o primeiro filme da carreira de Craig ter gerado um monstro da expectativa tão colossal e assim que me fez ligar o cérebro pra assistir o que era antes apenas um filme de ação e espionagem. A solução pra tudo isso é desligar um pouco o senso crítico e assistir esse filme como grande cinema pipocão que ele é.
Mas... Dizem por aí que Cristopher Nolan pode dirigir o próximo filme da franquia...
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