Vida e obra de Neusa Santos
Descrição da imagem: captura de tela do programa espelho onde vemos Neusa Santos uma mulher negra de cabelos curtos falando. |
Neusa Santos Souza talvez tenha sido uma das maiores psicanalistas que o Brasil teve, mas quase não foi ouvida. Conhecida por “Tornar-se Negro”, sua vida e obra denunciaram de forma acadêmica os males o racismo sistêmico. Segue a thread 👇🏾 pic.twitter.com/alB5jn58H7
— Psi. Tiago Cabral (@psitiagocabral) June 17, 2020
Neusa Santos Souza talvez tenha sido uma das maiores psicanalistas que o Brasil teve, mas quase não foi ouvida. Conhecida pelo livro “Tornar-se Negro”, sua vida e sua morte denunciaram de forma acadêmica os males o racismo sistêmico. Formou-se em medicina e tornou-se psiquiatra e psicanalista, uma carreira dominada por homens brancos que talvez nunca tenham aceitado uma mulher de queixo erguido que falava de racismo.
É possível que ela tenha enfrentado diversos episódios de racismo durante sua formação.
Há relato de uma amiga de Neusa de que na faculdade elas eram lembradas o tempo todo que “não tinham pinta de médicas”, e que foi obrigada a alisar seu cabelo para a formatura. Vindo pro Rio em busca de oportunidades, Neusa se destacou ao fazer mestrado antes da especialização em psiquiatria, o que era algo muito difícil na época.
A dissertação de mestrado de Neusa se transformaria na obra Tornar-se Negro, que hoje é tida como um dos marcos da psicologia preta no Brasil. Mas na época ela foi ignorada pela comunidade psicanalista. Na tradição da psicanálise é comum o profissional se filiar a alguma escola ou associação. Neuza nunca passou muito tempo em nenhuma, vindo na década de 90 a dedicar-se a seminários no Hospital Casa Verde onde trabalhava principalmente com pacientes graves.
Nos últimos 10 anos de sua vida Neuza se afastou da militância e passou a recusar convites para falar de psicologia preta. No entanto publicou textos e colaborou com artigos sobre a psicose e a psicanálise lacaniana.
Em Tornar-se Negro, Neusa descreve o processo de racismo como causador de uma ferida narcísica no sujeito.
Neuza pode ter sido uma das maiores psicanalistas do Brasil, e mesmo tendo se afastado da militância, ao se dedicar a casos de psicose a mesma pode ter contribuído muito para o povo negro, que é uma porcentagem significativa de casos de transtornos mentais no Brasil.
Neusa partiu em 2008, longe de sua terra natal e deixando para trás a coleção de arte, que cita na sua última entrevista num caso de racismo que sofreu. Sua carreira nos faz pensar em como a intelectualidade negra é recebida pela sociedade brasileira.
- SOUZA, N. S. Tornar-se negro: As Vicissitudes da Identidade do Negro Brasileiro em Ascensão Social. Rio de Janeiro: LeBooks, 2019
- PENNA, William Pereira. " ESCREVIVÊNCIAS DAS MEMÓRIAS DE NEUSA SANTOS SOUZA: APAGAMENTOS E LEMBRANÇAS NEGRAS NAS PRÁTICAS PSIS". UFF . 2019
- GELEDÉS: Racismo: Por que se matou a psicanalista negra que fazia sucesso no Rio?
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