Vida e obra de Virgínia Bicudo

Foto em preto e branco de Virginia Bicudo

Hoje é dia da psicóloga e vou aproveitar pra falar sobre uma das psicanalistas mais importantes do Brasil, Virgínia Bicudo. Uma emocionante biografia que se mistura a história da fundação da psicologia brasileira e a luta do povo negro no país.

Portanto, decidimos publicar esse texto no meu perfil do Twitter onde desenvolvemos uma longa discussão sobre psicologia preta, discussão esta que você pode acompanhar em tempo real através da caixa abaixo:



Virgínia foi uma mulher negra, psicanalista cujo nome está na base da própria história da psicologia no Brasil, isso porque ela quebrou barreiras impensáveis pra época, principalmente para uma pessoa da sua origem, mas é necessário contextualizar uma carreira tão brilhante.

Virgínia foi uma psicanalista, não psicóloga. Apesar de relacionadas a psicologia é uma ciência, a psicanálise é uma “filosofia clínica” criada por Freud antes de existir psicologia que aqui só virou profissão na década de 70, bem depois do início da carreira dela.

Porém, isso não diminui o mérito de Virgínia, muito pelo contrário. 

No Brasil por muito tempo a psicanálise era considerada uma prática exclusiva dos médicos que ainda mais do que hoje era uma profissão elitizada e dominada por homens.

Então dá pra imaginar o impacto de uma mulher negra se tornando psicanalista numa época em que isso era uma prática extremamente branca e masculina. Mas como Virgínia conseguiu fazer isso no cenário mais desfavorável possível?

Virgínia era filha de um ex-escravizado e uma descendente de italianos. 

Pra deixar a coisa mais intrigante ainda, ela não se formou em medicina, mas em Sociologia em 1938 sendo a única mulher de sua turma.

Deixando claro seu destaque enquanto acadêmica atuou como professora e fez o mestrado, nesse processo tendo contato com a psicologia social sendo orientada então a estudar a psicanálise de Freud, que inspirou sua dissertação que falou sobre os danos causados pelo racismo!

Mas a sociedade não deixaria isso barato. Ao começar atuar na psicanálise, Virgínia foi perseguida por seus pares. Alguns médicos chegaram a emitir folhetins difamando a psicanalista! Ela então decidiu ir para Londres e aperfeiçoar ainda mais seu conhecimento em psicanálise.

Porém, Virgínia enfrentou às críticas de peito aberto. 

Afinal de contas, o próprio Freud concordava que não médicos podiam exercer a psicanálise que era uma forma de pensamento, não uma técnica exclusiva da medicina.

Virgínia participou da criação da Sociedade Brasileira de Psicanálise e foi reconhecida como a primeira psicanalista não médica! Essa abertura tirou das mãos dos médicos a exclusividade dos cuidados da mente e abriu o caminho para o surgimento da profissão psicólogo no futuro.

O trabalho de Virgínia enquanto psicanalista ajudou a destacar o problema do racismo no Brasil. Em sua dissertação de mestrado ela fez uma pesquisa que mostrava o quanto estruturas sociais racistas traziam prejuízo psicológico ao povo negro.

Ela faleceu em 2003, ocupou cargos de direção da Associação Brasileira de Psicanálise e fundou institutos. Porém sua história é relativamente pouco conhecida, seu livro só foi publicado mais de 60 anos depois de escrito. Precisamos divulgar mais a obra dessa mulher incrível!

Comentários

Veja também:

Artigos populares