Crônica: A Bolha Assassina e a polairzação política

 

Descrição da imagem: Poster original brasileiro do filme A Bolha Assassina. Uma mão surge de uma massa rosa disforme. Abaixo o título e o subtítulo que diz "O terror não tem forma".

O que um dos filmes de terror B mais repetidos da TV tem a ver com a sociedade de hoje? Acho que talvez você já saiba.

Na década de 90 assim como foram nas décadas anteriores a babá da criançada era TV. Numa época em quem videogames eram artigos de luxo, muitas vezes a gente se via entretido por alguma reprise da Sessão da Tarde (Globo) ou do Cinema em Casa (SBT). Muitas vezes a gente tinha nesses programas acesso a filmes de terror de baixo orçamento, ou como a galera do tênis verde vai conhecer melhor, os filmes "b".

Pra mim, o filme B "A Bolha" (1988) consta na memória afetiva como sendo repetidamente exibido no cinema em casa, ao lado de clássicos como O Monstro do Armário. A história não tem nada de complexo ou filosófico: uma bolha "alienígena" cai do céu num meteorito e começa a devorar os cidadãos de um lugarejo com seu toque ácido sendo necessária até mesmo uma intervenção militar.

O que pouca gente sabe é que, além da clara referência ao conto "A Cor Que Caiu do Céu", de Lovecraft, o filme B que cansamos de assistir traz outras curiosidades, como o fato dele ser na verdade um remake de um clássico de 1958 estrelado por ninguém menos que Steve Maqueen. Também se haveria um novo ramake que estaria em produção desde meados de 2010, mas que até hoje não viu a luz.

Porém em 2021 vemos um ataque semelhante acontecer a plena luz do dia, e com dimensões bem mais épicas do que aquela cidadezinha do filme sofreu, porque o problema se tornou global.

As bolhas das redes sociais, tal qual a bolha assassina do filme, consomem os cidadãos fazendo com que eles se tornem parte de uma massa monstruosa que perpetua o terror e a morte. Usando o mecanismo psicossocial da necessidade de fazermos parte de um grupo, as redes sociais criam círculos onde nós não conseguimos sequer identificar a realidade, e nos desfazemos enquanto seres humanos passando a compor uma "coisa" (que também é um filme B, lembra?) completamente disforme movida apenas pelo ódio.

A coesão grupal muitas das vezes leva o sujeito a abrir mão da própria identidade para se sentir cada vez mais acolhido por aquele grupo, pela bolha, sendo esse processo de transformação monstruosa uma das fontes primárias do comportamento grotesco que vemos em grupos supremacistas brancos, religiosos ultra radicais e outros que se tornam uma criatura pronta para ser manipulada por qualquer político inescrupuloso.

E seguimos sendo absorvidos.

Porém, ao contrário do filme não parece que surgirá uma salvação, e tudo parece ser absorvido transformando nossa realidade tangível num roteiro furado de um filme de terror repetido da TV aberta.

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