Pretos no topo, mas a quebrada NÃO venceu.
Existe uma crítica muito comum que é feita a pessoas negras e periféricas que vencem na vida e saem da quebrada, ou seja, da periferia. A crítica é que essas pessoas teriam abandonado suas origens, individualizando sua vitória enquanto ela teria sido fruto de um esforço coletivo que remonta a ancestralidade. Bom, essa foto é de hoje, da quebrada onde nasci e fui criado inundada pela enchente e queria refletir aqui com vocês sobre umas coisas.
Já vi muitos poetas compararem a “quebrada”, ou seja, a periferia, a uma senzala moderna. Um lugar para guardar gente pobre e preta, sem acesso à cultura, educação e, de preferência, longe do olhar da classe média. A senzala tem outra função também, manter a hierarquia social. Se o pobre ascender socialmente, ele deixa de ser pobre, deixa de ser mão de obra barata tão necessária para as bases da sociedade.
Existe sim uma responsabilidade social das pessoas que, mesmo com essa adversidade, conseguem sair da quebrada. Mas até onde ela vai? Disse antes que a quebrada é um lugar de congelamento social. Aquilo ali é feito para que a empregada seja filha da empregada que vai parir outra empregada. Como vai sair uma “doutora” dali?
Penso em todas as dificuldades que enfrenta uma pessoa periférica racializada que consegue sair desse lugar. É sim preciso ajudar a mudar essa realidade, mas apenas até onde nosso braço alcança, sob risco de voltar a repetir o ciclo da pobreza do engessamento social.
O que se pode fazer também é cobrar o estado, esse sim tem obrigação de prover infraestrutura, cultura, lazer, educação que é o que muda a quebrada, que é o que abre portas e amplia horizontes.
Faça o que puder, mas não se culpe do que não conseguiu fazer. A pobreza não é um acaso, não é um fracasso. A pobreza é um plano muito bem estruturado e construído ao longo de séculos.
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