Uma literatura independente de quê?

 Acredito que a grande maioria, dos autores brasileiros são, nesse momento, independentes. Daí eu me peguei refletindo: o que é ser independente?

Talvez ser independente para o mercado brasileiro signifique ser abandonado por qualquer estrutura institucional que possibilite a publicação do seu livro. Veja bem, não é difícil pensar assim num país em que arte é vista como coisa de "vagabundo" e que temos um mercado de arte tão fechado, resignado a uma elite econômica rabugenta, engessada e com síndrome de vira-latas. É bem tentador a gente sentar e ficar reclamando disso. O problema é que pensar assim faz a gente desistir.

Penso que um autor independente não é só aquele que não publicou numa editora, mas sim talvez aquele que esteja num mercado informal de arte como tantos que existe por aí. Acredito ainda que, por exemplo, um autor que publique numa editora pequena também seja independentes, pois em editoras pequenas querendo ou não o autor é obrigado a participar de várias partes do processo de publicação que vão muito além de, simplesmente, escrever um livro, como a divulgação, distribuição e etc.

Mas a principal vantagem de ser um autor independente é não ter, de fato, nenhuma amarra institucional. Ser livre para publicar e estruturar sua arte da forma como você quiser. De certo, há uma angústia em não ter parâmetros, pois a nossa sociedade nos ensina que temos que "prestar contas" para alguma autoridade sempre. Precisamos, muitas vezes, de alguém para dar-nos um tapinha nas costas e confirmar que estamos no caminho certo. Mas ser independente é, de fato, ser seu próprio avaliador e incentivador, e não existe maior liberdade do que esta.

Então somos independentes do suporte, mas também somos independentes das amarras institucionais que nos limitam. Podemos ver na música que os grandes artistas cada vez mais abandonam os grandes selos, grandes estúdios, por conta dessas amarras. Alguns abandonam até mesmo grandes plataformas de distribuição como o Spotify. É óbvio que se você já for um reconhecido monstro de sua arte e muito mais fácil fazer isso do que sendo um artista estreante, mas por que não? Será mesmo que a possibilidade de trilhar esse caminho institucional da arte é mesmo uma possibilidade para corpos diversos em 2024? Ou será que é uma ilusão?

De fato, seguir independente demanda coragem, demanda estômago, coração. Demanda termos fé também, fé no que fazemos e na nossa visão de mundo. Não é fácil, mas quando conseguirmos o resultado desejado que é o encontro com o público, isso pode valer a pena.