Tempo Perdido

Você aproveita bem seu tempo? Ou só passa por ele?

Eu adoro estudar sobre essa coisa curiosa que é a ciência moderna, essa metafísica tecnicista dos tempos de hoje. Isso porque eu considero que todo conhecimento é um tipo de história que se conta, uma narrativa que serve para passar uma experiência para outro ser humano que não a viveu e assim passar um comportamento adiante.

Esse, na minha opinião, é o grande super-poder das histórias, da palavra. Fazer com que uma pessoa tenha em sua mente memórias sobre algo que não viveu e, assim, aprenda com a experiência de pessoas que, as vezes, viveram milhares de anos antes dela.

Temos memórias inclusive sobre coisas que nem existem! Quando se pensa em narrativas de fantasia como os universos cinematográficos, literários e até mesmo do mundo dos jogos eletrônicos, temos comunidades inteiras de pessoas que compartilham experiências sobre universos que não existem.

Também construímos coisas, tecemos feitos, baseados naquilo que não se pode ver, como átomos, estrelas incontávelmente distantes... Enfim. Isso me faz pensar se não perdemos tempo nos atendo apenas aquilo que é cotidiano, mundano, realista. É preciso ressaltar que não defendo aqui um disprendimento da realidade, longe disso, mas se podemos viver conscientes não só do que nos cerca, mas do imaginário a nossa volta, nossa vida é, então, mais proveitosa. Não?

Declaro, portanto, tempo perdido aquele que se gasta longe do imaginário, da fantasia e, porque não, da poesia. O tempo que se passa inconsciente do universo ao seu redor, falo mesmo desse universo semântico, metafísico, esse universo feito de poesia.

Pois sem o imaginário, sem a poesia que nos cerca, vivemos menos de um século, isso quando chegamos a tanto. Mas quando tomamos posse do imaginário, da poesia que nos cerca, podemos viver a humanidade em toda a sua extensão. Podemos conviver com pessoas que viveram nas cavernas centenas de milhares de anos atrás, podemos vislumbrar e, porque não, criar um futuro possível.

Bastar-se na realidade crua, seca é tempo perdido.