Genocyber - revisitando animes de terror cyberpunk dos anos 90

 

É natal e, tendo o privilégio de um recesso de fim de ano, acaba sobrando um tempo pra inventar moda e eu acabei esbarrando nesse anime de terror cyberpunk (se é que é esse mesmo o gênero) extremamente gore (leia violento e graficamente explícito) chamado Genocyber. O negócio é tão louco ou complexo que fica até difícil a gente definir uma sinópse. Mas eu vou tentar:

Aparentemente, porque é difícil ter certeza das coisas em Genocyber, existem duas irmãs gêmeas que foram geradas por um experimento científico (que também mistura coisas religiosas no meio) e que acabou dando super-poderes a elas. Uma das irmãs, Elaine, virou uma criança em situação de rua com poderes psíquicos, a outra, Diana, virou uma espécie de Robocop, ou seja, uma pessoa dentro de uma armadura cibernética, que trabalha como “super soldado” para uma corporação maligna.

Mas calma, isso são os primeiros minutos da história. Essa corporação do mal faz com que Diana vá atrás de Elaine para capturá-la, porque somente as duas juntas podem se tornar a super-arma “Genocyber”. Daí Diana encontra Elaine e elas se fundem (não me pergunte por quê) virando o bichão do mal que tem chifres e que lembra muito o personagem Cell de Dragon Ball. Aí as duas, que agora fundidas são Genocyber, enfrentam dois caçadores que vão atrás delas. Nessa primeira parte (o anime - o termo correto é OVA - é dividido em 5 partes) elas enfrentam dois caçadores cibernéticos que tem o poder de se transformar em aberrações cuja melhor descrição que eu consigo fazer é que é como se eles fossem Transformers de carne e aço que saem da forma humana para se tornar algo que me lembra muito um tanque-centauro (sim, é bem grotesco) e poarecem saídos do game Doom.

E essa é só a primeira parte.

A grande pergunta que precisaria ficar aqui é “por que eu estou assistindo isso?”, mas a resposta é simples: um tanto de nostalgia e uma mistura de referências ou coincidências que fazem com que a obra se pareça com tudo que rolava em matéria de anime cyberpunk dos anos 90 até o início dos anos 2000.

O Genocyber é horrível. Tem um péssimo desenvolvimento de personagens e, pelo menos na versão que eu assisti, que era dublada pelo clássico estúdio Gota Mágica e, por isso, deve ter sido editada, salvo em poucas cenas, nem é tão gore assim. Mas tem ali um mojo que parece reunir numa única obra a essência desse estilo de anime tão popular nos anos 90. É uma coisa que mistura nostalgia e referência apesar da coisa ser doída de assistir.

Eu já mencionei que a criatura Genocyber se parece muito com o personagem Cell, vilão de Dragon Ball Z, mas os traços da animação da época são o que mais prendem. Além disso, fiquei muito surpreso em ver que Evangelion não inventou a loucura de misturar religiões orientais e ocidentais com cyberpunk. Explico: não é incomum que japoneses tentem incorporar traços da cultura ocidental em suas obras, mas assim como a gente entende de forma extremamente rasa a rica e complexa cultura oriental, eles também não entendem muita coisa do que a gente faz por aqui. Há outros exemplos dessa inspiração japonesa fora do cyberpunk: Cavaleiros do Zodiáco, um incontestável clássico, já botou na mesma cena Lúcifer e um deus grego. No que tange o cyberpunk japonês, não dá pra esquecer de obras como Elfen Liad, Ergo Proxy e muitos outros. Mas a mais marcante pra mim foi Evangelion.

Em Evangelion eles misturam conceitos de misticismo judaico com o shintoísmo criando uma história em que Adão e Eva e outras figuras religiosas como anjos se tornem monstros gigantes que são enfrentados por humanóides gigantes pilotados por crianças que, aparentemente, estão pilotando clones geneticamente modificados de seus pais. Ao menos foi isso que eu entendi até hoje, mas é questionável porque a história não é muito clara sobre isso e nem procura desenvolver essas partes.

Em Genocyber, eles misturam conceitos de hinduísmo com tecnologia, afinal um dos nomes da criatura protagonista, Genocyber, é Vajra, que é uma espécie de arma mitológica hindu, além de outras referências. Além disso, em certo momento, Elaine adquire um corpo cibernético que lembra muito o corpo de Alita (outro mangá/anime cyberpunk), mas que me lembrou os uniformes que as crianças de Evangelion usam para pilotar os Evas (os robôs/humanóides gigantes da história).

Todo o contexto de ser uma “super arma” ou “super soldado” não é incomum no cyberpunk japonês, vejamos o grande exemplo de Akira, afinal. Mas a estrutura de “organização secreta” e os diversos personagens cientistas que aparecem na história me lembram muito a NERV, a organização que controla os robôs gigantes de evangelion.

Em certo momento, a história se passa numa cidade que me lembra muito Tokio-3, que é a cidade ficcional onde se passa Evangelion, mas das coincidências da história acho que talvez essa seja a mais fraca e deve existir apenas na minha cabeça.

Digo coincidência porque tanto Evangelion quanto Genocyber são da mesma época. O anime de Genocyber é de 94 enquanto a série animada de Evangelion é de 95. Eu penso que um ano de diferença pode ser muito pouco pra dizer que uma influenciou a outra, tendo em vista que produções animadas demoram para serem feitas, portanto, na minha cabeça, é muito provável que Evangelion já pudesse estar sendo produzido quando Genocyber estreou.

No entanto, as duas animações são baseadas em mangás, porém o mangá que inspiurou Genocyber é de 92 e abarca apenas a primeira parte da história, as outras 4 partes foram desenvolvidas pelo autor diretamente para a animação. Enquanto isso, o mangá de evangelion é de 1994, mas a animação começou a ser produzida antes do mangá.

Mas vale a pena? Isso é uma indicação ou apenas um passeio por referências obscuras?

Olha, pensando no público geral, não vale. Mesmo que você adore animes violentos e terror cyberpunk, a história é tão ruim que não vai conseguir te prender e as cenas de violência são muito confusas e, principalmente na metade final, são escassas e sem sentindo nenhum na trama. Eu assisti até o final por conta das referências, a ideia era pesquisar depois se havia mesmo essa influência sobre outros animes do gênero, mas, aparentemente, é tudo uma coincidência, afinal todas as obras são do mesmo gênero e, principalmente, da mesma época e do mesmo recorte cultural e geográfico. Não é incomum que histórias de um mesmo gênero que são lançadas no mesmo contexto histórico e cultural possuam estruturas de roteiro e estéticas semelhantes.

Então, a não ser que você goste muito de animes cyberpunks de terror dos anos 90, procure outra coisa. Mas se você quer ter essas referências, aí sim, vale a pena assistir.

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