Metafísica: um palavrão filosófico
Ilustração em caneta nanquim feita por IA representando Aristóteles falando um palavrão. |
Grécia, século I a.C. Aristóteles está morto e um grupo de pensadores perdeu seu tão amado mestre. Reconhecendo a importância de suas ideias, seus seguidores, especialmente Andrônico de Rodes, organizaram e categorizaram suas obras. Entre elas, uma das mais célebres era a Física, um tratado fundamental para a filosofia natural. No entanto, havia outro conjunto de escritos sem título específico, abordando questões que transcendem o mundo natural. Por uma lógica de categorização, esses textos foram chamados de meta ta physika, ou "depois da física". Assim, nasceu o termo "metafísica", que posteriormente passou a designar o estudo das causas primeiras e da essência do ser.
É uma estranha rima do destino que os discípulos de Aristóteles tenham decidido colocar depois da física os textos de seu mestre que tratavam de uma parte mais abstrata do pensamento, que falava sobre a essência e a substância das coisas, ou a causalidade e até mesmo o infinito. A metafísica é portanto uma prática do pensamento sobre a origem do movimento e da mudança do universo. Ela estuda o que é o ser, tenta responder perguntas como porque existe algo ao invés de nada, o que hoje em dia podem parecer perguntas bobas e fazer com que a metafísica fique renegada apenas a um estudo da história de como nós chegamos ao pensamento moderno e não como uma estrutura de pensamento em si. Afinal, se hoje estudamos física quântica e outros tipos de ciência, pensar em metafísica pode ser algo que parece ser da natureza de uma masturbação mental, ou seja, algo que não produz frutos práticos.
O problema é que, quem pensa que a metafísica morreu com Aristóteles e se trata de uma discussão sobre o sexo dos anjos não entende nada de filosofia moderna.
A era obscura da metafísica, ou a metafísica como o "estudo de Deus".
Na idade média, muitos filósofos que ousaram trilhar o caminho da metafísica eram teólogos. Ao exemplo de Tomás de Aquino (1225-1274) que alegava que a causa primeira (termo da metafísica aristotélica) de todas as coisas era Deus. A escolástica, o método filosófico medieval, combinava lógica, metafísica e teologia. Isso criou a percepção de que a metafísica estava intrinsecamente ligada à religião, afastando-a de uma abordagem empírica ou secular.
Porém, durante o movimento iluminista, fase histórica onde o pensamento ocidental deixou de ser emparedado pelo poder institucional da igreja, a metafísica passou a ser renegada, pois essa forma de pensamento, como dito, passou a estar associada justamente a uma espécie de método para provar a existência de Deus, ou uma forma de colocar Deus como centro de todo movimeto do universo. No entanto, nesse contexto histórico, os pensadores estavam interessados em voltar o foco para o homem e para as coisas "da terra", ou seja, as coisas empíricas, aquilo que podia ser tocado, observado e provado através da experiência e não apenas através do pensamento.
René Descartes (1596-1650), embora não iluminista, marcou a transição ao redefinir a metafísica como o estudo do pensamento e da certeza, mas ainda sob a influência do conceito de Deus. Filósofos iluministas como David Hume (1711-1776) rejeitaram a metafísica por considerarem que ela carecia de base empírica. Hume argumentava que todas as ideias deveriam derivar de impressões sensoriais, o que excluía os conceitos metafísicos clássicos, como a substância ou a alma. Immanuel Kant (1724-1804), uma figura chave no Iluminismo tardio, criticou a metafísica tradicional por confundir os limites da razão humana. Ele argumentou que a metafísica medieval estava repleta de conceitos especulativos, especialmente sobre Deus, que não podiam ser provados empiricamente.
A metafísica moderna.
Mas quando falamos de metafísica enquanto campo da filosofia, os debates ainda continuam. Erra quem pensa como os medievais que a metafísica é um campo que tangencia o "lado de fora do universo", que fala sobre espíritos e energias invisíveis. Hoje a metafísica pensa sobre os limites da realidade conversando com a ciência moderna, ou seja, dentro dos limites da percepção humana e da experiência de realidade que nos é possível.
No início do texto citamos autores como Descartes e Kant para descrever um afastamento da filosofia da metafísica, no entanto, esses autores também deram sua contribuição para este campo filosófico, mostrando que a crítica a metafísica faz parte de sua construção assim como em qualquer ciência. De fato, o mito de que a metafísica é algo inútil ou descartável segue sendo apenas um chiste de um movimento positivista que busca reduzir a ciência apenas aquilo que é, supostamente, exato, empírico ou "natural", o que é uma falácia.
Alguns filósofos modernos que falam de metafísica:
1. René Descartes (1596–1650)
Obra Principal: Meditações Metafísicas (1641)
Pensamento: Considerado o pai da filosofia moderna, Descartes buscou estabelecer um fundamento seguro para o conhecimento. Sua famosa máxima "Cogito, ergo sum" ("Penso, logo existo") reflete sua crença de que a existência do eu pensante é indubitável. Descartes propôs o dualismo entre mente e corpo, argumentando que a mente (res cogitans) e o corpo (res extensa) são substâncias distintas.
2. Immanuel Kant (1724–1804)
Obra Principal: Crítica da Razão Pura (1781)
Pensamento: Kant procurou reconciliar o racionalismo e o empirismo, argumentando que, embora todo o conhecimento comece com a experiência, nem todo ele deriva da experiência. Ele distinguiu entre fenômenos (o mundo como o percebemos) e númenos (o mundo como é em si mesmo), afirmando que nossa compreensão está limitada aos fenômenos. (fonte Rabisco da História - o mesmo artigo).
3. Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770–1831)
Obra Principal: Fenomenologia do Espírito (1807)
Pensamento: Hegel desenvolveu uma filosofia dialética, na qual a realidade evolui através de contradições e sua superação, levando ao desenvolvimento do espírito absoluto. Sua dialética de tese, antítese e síntese influenciou profundamente a filosofia subsequente.
4. Arthur Schopenhauer (1788–1860)
Obra Principal: O Mundo como Vontade e Representação (1818)
Pensamento: Schopenhauer via a vontade como a essência fundamental da realidade, uma força irracional que impulsiona todas as coisas. Ele acreditava que o sofrimento humano deriva do desejo incessante e que a contemplação estética e a negação da vontade poderiam oferecer uma forma de escape.
5. Friedrich Nietzsche (1844–1900)
Obra Principal: Além do Bem e do Mal (1886)
Pensamento: Nietzsche criticou a metafísica tradicional e a moralidade ocidental, proclamando a "morte de Deus" e defendendo a criação de novos valores pelos indivíduos. Seu conceito do "Übermensch" (além-do-homem) representa um ser que transcende as limitações humanas tradicionais. Maestro Virtuale
6. Martin Heidegger (1889–1976)
Obra Principal: Ser e Tempo (1927)
Pensamento: Heidegger explorou a questão do ser, distinguindo entre o "ser" (Sein) e os "entes" (Seiendes). Ele introduziu o conceito de "Dasein" para descrever a existência humana, enfatizando a temporalidade e a finitude como características fundamentais do ser.
Fontes (internet):
- Freud, Metapsicologia.
- Maestro Virtuale. "Os 7 mais destacados filósofos metafísicos".
- Rabisco da história, "A Busca pelo Sentido: A Metafísica na Filosofia Moderna."
Nota: parte da revisão e da pesquisa desse texto foi feita utilizando inteligência artificial.
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