A crônica da correria.
Pra começo de conversa, isso aqui nem deveria ser um post num blog. Quem lê blogs em 2025? Isso deveria ser um roteiro de vídeo de menos de 60 segundos no Tiktok, porque o mundo está acabando e todas as pessoas estão mentalmente adoecidas com a atenção reduzida a vídeos rasos de segundos.
Mas celular não toca mais. Meu celular está no mudo desde 2010, meu WhatsApp está com as notificações desativadas desde antes da pandemia. Mas a gente não precisa disso, não é? A gente vai olhar o telefone mesmo que ele não toque, mesmo que ele não vibre. Mesmo que aquela bolinha do aplicativo não mostre quantas mensagens não lidas estão esperando a nossa atenção.
Isso porque, se a gente não atender às demandas do capitalismo, a gente vai morrer. E é sério.
Já pensou no que é uma crise de ansiedade? Tem gente que desmaia. Quem não desmaia sente falta de ar, dor no peito. Tem gente que chega a ter taquicardia. Os sintomas são tão graves que as pessoas são atendidas às pressas nos pronto-socorros, em desespero. Tudo isso por causa do trabalho, da família, da escola ou qualquer coisa.
Isso porque tudo é pra ontem,
tudo é correria.
Temos que dar conta do trabalho de cinco, ou seremos demitidos. Como se a gente não pudesse procurar outro emprego, como se não tivesse família para nos apoiar… Sim, há quem não tenha. Mas será que as responsabilidades que estamos aceitando são realmente necessárias? Será que a gente precisa ganhar isso tudo? Ou será que a gente está se matando na verdade não é para pagar um videogame de última geração, um PC que vale o preço de um carro usado? Será mesmo que é algo tão importante que a gente faça uma viagem internacional ou que compre a roupa daquela marca? Será que temos mesmo que almoçar fora todo dia ou ir naquele lugar viver a tal da “experiência” da qual todos estão falando no Instagram?
Mas aí a gente tá falando de uma experiência de privilégio, de quem não tem que se preocupar com comer ou dormir, ou então, pior, quando precisamos prover isso a quem amamos. Mas se sofremos tanto e temos tão pouco em retorno, o que temos a perder senão nosso próprio desespero?
Ah, e eu vim aqui te avisar que estamos sendo pautados! Mas sempre fomos. Porém, hoje a TV, o Rádio e o relógio de ponto não têm mais o botão de desligar. Além disso, quem tudo tem nada produz. Sim, me chame de comunista, mas de fato, é de se parar pra pensar que quem mais pode comprar e viver pouco faz (quando não faz nada). E seguimos vivendo como se aquele projeto que seu chefe disse que é urgente fosse uma cardiopatia. Seguimos achando que todos são felizes, menos a gente, porque nos Instatoks da vida todo mundo está viajando, todo mundo é VIP em alguma coisa ou tem uma opinião firme sobre algo. E sofremos, mesmo sabendo que aquilo tudo é mentira!
Aliás, hoje em dia não precisa estar certo, precisa ser firme, agressivo, precisa falar com a propriedade de quem fica ofendido ao ser contrariado, preste a esbofetear alguém. Sim. Mesmo que os pensadores já digam há milhares de anos que, quanto mais se sabe mais dúvidas se tem. Mas é claro que ninguém quer levar um pescotapa por conta de uma opinião e os tolos vencem.
Não podemos cansar nunca. Temos de ser mais eficientes que máquinas, elas que têm mais direito a manutenção que nós. Nossa manutenção é o sono, é o descanso, é o lazer, o passatempo inútil (como este de escrever). Nossa manutenção é o olhar do outro, este que foi privatizado pelas redes sociais, esse que foi instituído como tráfego pago ou taxado com propagandas.
E o que temos de solução pra correria? Uma vida de paz debaixo da ponte? A fuga para um campo idílico fantasiado só por quem nunca pôs a mão na terra de verdade? Não sei. Eu não tenho respostas pra te dar. Eu sou poeta, minha função é provocar. Mas eu tenho certeza que nesse momento, por aí, tem um monte de gente vendendo solução instantânea embalada com plástico, aquele mesmo que mata as tartarugas. É só não esquecer de descartar depois de usar.
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