Crítica: Nosferatu - A arte pela arte.

  

Nosferatu (2024) é um filme de terror gótico dirigido pelo icônico diretor Robert Eggers (de A Bruxa) e produzido por Chris Columbus (de Gremlins e os 3 primeiros Harry Potters) que refilma, quase que frame a frame um clássico da década de 20 de mesmo nome. O original, que é um filme do expressionismo alemão, movimento cinematográfico caracterizado por uma filmografia impressionista e atuações dantescas é homenageado nesse filme que consegue revisitar a história de Drácula de uma forma elogiosa e, ao mesmo tempo, renovar esse tipo de narrativa de um jeito belo e artístico.

A história do filme é, basicamente, a história do romance Drácula de Bram Stoker que, na década de 20, foi "pirateada" por Mornau que não conseguiu os direitos da obra e decidiu filmá-la assim mesmo, trocando apenas os nomes como, por exemplo, ao invés de Drácula, temos Orlok. No entanto, ainda assim o filme se tornou um sucesso e foi refilmado diversas vezes preservando, inclusive, a textura do primeiro filme, como a forma bizarra do vampiro, ou o clima gótico.

É importante dizer que, apesar de, sim, ser um entretenimento de qualidade, essa obra não parece ter sido filmada pensando no grande público, num cinema "pipocão de família", mas parece ter a intenção de fazer uma ode a todo um gênero cinematográfico. A narrativa não tenta simplificar nada para a plateia. O tempo todo somos mergulhados enquadramentos típicos do cinema da década de 20, a cenas escuras e aterradoras. E o que dizer dos diálogos cheios de um lirismo poético feito de uma forma que, em outros contextos, poderia soar pedante ou até brega, mas que, naquela composição exalta o clima gótico que a história quer passar? Também temos as falas do prof. Von Franz (Dafoe) que aludem o tempo todo o ocultismo da época em contraste com a ciência que iniciava seu caminho numa epistemologia mais empirista (ou positivista).

Tudo que é vivido pelos personagens é muito intenso, não só nas falas, mas também nos gestos expressivos, nos olhares e gestos que beiram ao teatro experimental. No entanto, mesmo com tanta elegia em relação a histórias góticas, o filme ainda consegue ser moderno, tratando de assuntos como a sexualidade, no sentido de brincar com o jogo do desejo em relação a castração.

Além disso, de fato, nenhum frame é perdido. A impressão que se dá é que, a cada enquadre, se pausarmos o filme, poderemos perceber detalhes não vistos. Isso fica claro quenado temos ações que acontecem ao fundo da cena também, o que me parece ser uma influência de Collumbus, que fazia muito dessas brincadeiras em Harry Potter, o que dá uma profundidade ao universo apresentado. 

Enfim, um filmasso que irá deleitar os amantes do cinema, mas que talvez não seja bem digerido por quem esteja procurando apenas mais um filme de terror. É uma obra que necessita de contexto, mas que pra quem o tem, é entretenimento garantido.

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