Crítica: O Brutalista

 

O Brutalista é um filme "Oscar Bait", que é uma gíria que em inglês significaria algo como "fisga Oscar", que são aqueles filmes que já são produzidos pensando na premiação. Ele pega um período incomum nesses filmes, que é o pós Segunda Guerra, em que vemos um arquiteto judeu se esforçando para se adaptar a cultura americana e se restabelecer dentro de sua profissão, sendo que, em sua terra natal antes da guerra ele era um arquiteto renomado e na América ele é apenas mais um imigrante, literalmente, na fila do pão. É então que sua sorte muda após iniciar o trabalho de uma reforma de uma biblioteca para um milionário excêntrico que, a princípio, o enxota de sua casa aos berros, mas que, depois de sua biblioteca ser exaltada como sinônimo de requinte e modernidade até mesmo em revistas de arquitetura, ele recontrata o nosso protagonista para fazer uma obra faraônica: um instituto cultural em homenagem a falecida mãe deste milionário.

Se trata de uma obra de mais de três horas de duração com direito a intervalo, assim como era no cinema clássico ou nas peças de teatro, aliás, eu achei essa ideia de intervalo ótima para dar aquela ida ao banheiro ou, se você for milionário, renovar o estoque de pipoca.

Eu confesso que entrei na sala de cinema esperando muito paper porn, que é aquela pornografia de papelaria onde vemos alguém exibindo canetas-tinteiro, envelopes, documentos bem diagramados e todo o processo criativo de quem trabalha com papel, afinal de contas, é um filme de arquitetura. E até temos essa estética vez ou outra, porém o filme parece se focar até mais nas cenas de sexo propriamente dito do que no processo criativo do arquiteto, que pra mim ficou muitas vezes oculto, subentendido. Vemos algumas cenas de apresentação de maquetes e até de plantas, mas isso tudo ficou muito obscuro.

Um exemplo em que temos o paper porn muito bem executado, ao contrário de O Brutalista, é a série Ripley, do Netflix, onde parece que o mundo para quando alguém tira uma caneta-tinteiro bonita do bolso, ou quando o falsário vai datilografar um documento numa máquina de escrever, tendo os objetos de papelaria como algo que estaria no centro do universo. Não vou mentir, há cenas assim em Brutalista, mas elas são deslocadas, parecem não passar aquele ar transcendente de "culto" ao objeto, como acontece em Ripley e outras mídias que glorificam objetos de papelaria. Mas, não vou ser injusto, toda a sequência da escolha do mármore para uma parte específica da construção tem esse ar contemplativo, mas o ponto é que eu queria mais.

O filme se perde também no desenvolvimento do protagonista, não sabendo abordar seu drama de uma forma correta. Parece que aquele personagem é bidimensional: em todas as cenas ele está numa catarse intensa, seja movido pelas drogas ou pela arte, ou ele está apático, plano, como se não fosse humano, ou estivesse anestesiado. O grande conflito emocional aparece mesmo no fim das cansativas 3h de filme para ser resolvido de forma abrupta e inexplicável amarrando tudo com um final aberto que destoa completamente de todo o clima do filme.

Enfim, o Brutalista é um excelente filme de plano de fundo, sabe? Pra deixar passando enquanto você faz outra coisa. Ele tem cenas muito lindas, os enquadramentos são geniais, principalmente no início da obra. Porém, não sei se vale a pena perder 3h da sua vida só pra isso. Um filme que me deu vontade de assistir de novo, com a mesma pegada, mas que executa o trabalho muito bem é "Steve Jobs" (2015), onde Fasbender interpreta o CEO e co-fundador da Apple durante três lançamentos icônicos de sua carreira.

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