Considerações sobre o mercado brasileiro de literatura e outras artes

Eu costumo falar muito nas redes sobre arte, principalmente sobre literatura que é a minha e quem me conhece sabe bem porque eu sou um escritor independente. Negro, de origem periférica, ao longo da minha carreira encontrei muitas portas fechadas, mas sei que isso não é uma exclusividade de minorias, apesar das portas darem duas voltas em suas chaves no caso delas, mas é um fato estatístico que o mercado brasileiro de arte é branco e elitista.

Mas a pergunta que fica é, há alguma opção além dele?

O perfil do homem branco de meia-idade, preferencialmente estrangeiro, tem mudado um pouco nas prateleiras, não muito, mas tem mudado. Hoje temos autoras negras publicando inclusive nas áreas de romance e até mesmo fantasia, mesmo que pessoas escritoras negras sejam restritas, muitas vezes, a falar de sua dor. Mas é inegável que esteja havendo uma inserção, mesmo que pequena.

Além disso, minha experiência como escritor independente que é mais longa do que a minha já cumprida experiência como profissional de psicologia, me mostra que, inegavelmente, não há vida fora do mercado. Mesmo as pessoas que escrevem que são mais bem-sucedidas no mundo das letras, acabam se voltando para práticas tradicionais de publicação, ou se rendem aos eventos do grande mercado como feiras literárias e bienais da vida.

Sim, há um espaço nas redes sociais, mas dentro de bolhas.

Quem escreve quer ser lido. Ponto final. Quem escreve não faz acepção de leitores (ou não deveria fazer). Duvido que não haja quem escreva que não queira ver sua obra numa vitrine de uma livraria de shopping, ou sendo indicado por um influenciador literário. E, por mais neoliberal, branco e elitista que o mercado seja, ele é quem entrega esse tipo de experiência para o artista da palavra.

Devemos nos render então?

Eu não sei se "rendição" é a palavra. Isso não é uma guerra, mesmo o mais perversos dos livreiros, aquelas pessoas que são herdeiras brancas de oligarquias, ainda estão, no fundo, talvez, querendo viver de arte assim como qualquer pessoa artista. Essa é a minha impressão.

Qualquer mercado é cruel, afinal o nome do jogo é capitalismo.  Então, se é um jogo, talvez seja inútil tentar virar a mesa porque ainda não temos o poder para isso. Mas falo de talvez tentar entender as regras desse jogo injusto e surfar por elas de alguma forma.

Eu entendo que a postura de alguns artistas acaba afastando qualquer possibilidade de dialogar com esse mercado e, se você de fato não quer fazer parte dele, tudo bem. Porém, de certa forma, é meio contraditório querer ver seu livro numa prateleira de livraria de shopping e ao mesmo tempo ser contra a existência dela. Gente, tá tudo bem ser contraditório também, tá? Eu mesmo costumo ser. Mas devemos ter em mente a consequência das nossas posturas e saber o caminho onde elas estão nos levando.

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