Crônica: Arte é política

 

Descrição da imagem: um grafite numa parede branca que exibe uma Monalisa usando uma arma.
(fonte);

Na cultura brasileira, pra grande maioria das pessoas, política é um palavrão. Isso porque política suscita polêmica, contradição e emoções extremas. Ninguém gosta de conflito e, quando se fala de arte comercial, quem quer viver de arte e participar do mercado de arte, muitas vezes, pensa que é preciso ser neutro para atingir o maior público possível. Mas será que essa é realmente uma possibilidade? Antes de tentar responder isso, vou explicitar para você o que eu acho que é política e o que é arte.

Comecemos com a arte.

Arte pra mim é uma tentativa de recortar a expressão humana num tempo. É como se a gente pudesse tirar uma foto do sentimento da época (ou zeitgeist) e conseguíssemos traduzir um sentimento, dizer o indizível, nos conectar com as pessoas do futuro e do presente de uma forma orgânica.

Já a política é uma relação com o outro. Política, para mim, é a arte de mediar comportamentos e emoções coletivas, é a capacidade que termos de estabelecer acordos sobre como nós devemos nos comportar em relação aos outros, sobre o que é justo.

Quando digo que arte é politica falo nesse sentido, de que a arte também ajuda a mediar alguma coisa, a traduzir, e facilitar a comunicação a negociação. Traduzir sentimentos é algo extremamente difícil. As vezes sequer conseguimos expressar os nossos sentimentos, imagina falar em nome do coletivo? É uma tarefa difícil, mas é uma tarefa a qual a arte se propõe.

Portanto, por mais que seja louvável a tentativa de um artista ser politicamente neutro quando seu objetivo é alcançar o número maior de pessoas possível, será que essa arte não fica um pouco "sem tempero", ou até mesmo perde seu propósito? Será que o artista que tenta ser neutro não está, de alguma forma, contando uma mentira involuntária? Isso porque, será que é possível mesmo a gente ser politicamente neutro?

Pra mim, e eu só posso falar por mim, a arte que não se engaja politicamente é mentirosa ou pasteurizada, ou seja, ela perde seu mojo, sua essência. Porque como acabei de comentar, arte é política. 

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